sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

a esperança de dias melhores e de um mundo melhor

Faz três anos que todo começo de ano tem sido de trabalhos novos para mim. Em sala de aula, diferentes salas de aulas, é claro, mas sempre com experiências inéditas.
Me sinto um pouco exaurida e até ansiosa por uma certa estabilidade, por começar um ano um pouco mais certa de onde estou, mas enfim... 
Esse ano letivo já começou (desde o início de fevereiro) e já sinto cansaço de tentativas difíceis de lidar com espaços de aprendizagens.

Não quero fazer uma postagem desanimada e que possa parecer desesperada, mas tem duas questões que me atormentam no momento (muitas outras mais, com certeza, mas, por ora, são as que consigo articular). São apenas reflexões de um coração inquieto. Talvez nos dois casos, possam ser auto-críticas mesmo, mas vamos lá.

Não basta o professor querer que as coisas aconteçam, é preciso querer conjuntamente.
Acho que, em primeiro lugar, todo o professor é meio auto-centrado demais e acredita que ELE pode fazer com que outros aprendam, que se ele for bom, tiver muita vontade, planos e dedicação, certamente fará os outros aprenderem. Há tempos que a gente sabe (quem sabe?) que não se faz nada sozinho. Até Tom Jobim já dizia que é impossível ser feliz sozinho. Por que em sala de aula seria diferente? Se tudo então é construído conjuntamente, é preciso contar muito com o "querer", com o desejo do outro.
Lembro muito de um professor que dizia que a educação se faz sempre por meio de um encontro - que pode ou não acontecer, já que é preciso que as partes queiram que aconteça. É preciso estar aberto e deixar rolar.
Esse ano, ainda não tive esse encontro. E isso me desespera. Acho que se eu fizer mais coisas, propor aulas mais legais, estudar mais, acreditar mais... É, eu sei. Soa como desespero, mas é apensas o vestígio das bagagens utópicas que todo professor carrega.

E dito isso, acho que aí está o meu segundo ponto. A utopia: a idéia de que a educação muda o mundo, ou melhor, muda as pessoas e as pessoas mudam o mundo.
Sempre ouvi isso nos encontros sobre educação. Mas também tive um professor que dizia que desde Dostoiévski já se sabe que a educação não melhora os seres humanos, não os faz serem melhores do que são de fato.
Para mim, isso não é tão óbvio assim. Não acredito mais que a escola tem uma função salvacionista e messiânica como já acreditei, mas ainda há uma pontinha de esperança em mim (talvez todo professor seja meio crente nesse sentido) de achar que a educação pode contribuir para um mundo melhor. Talvez a gente não mude as pessoas, mas podemos abrir algumas janelas para mostrar a elas outras possibilidades, outros jeitos de estra no mundo, de sentir as coisas de viver. Talvez nossa função como professores tenha muito a ver com a alteridade e com a tolerância.

Acredito que ainda é possível criar espaços de aprendizagem em que as pessoas possam ser mais felizes. Posso ainda não ter tido ou conseguido tal façanha esse ano, mas ele tá só começando. Ainda tenho esperança, especialmente pela experiência que tive no ano passado. Guardo no coração a memória de experiências fantásticas de turmas engajadas e felizes, de aprendizagens de sucesso que mostram que, às vezes, a gente consegue (obrigada, fabicanos!), mas nunca sozinhos.

Também faz parte do trabalho acreditar em dias melhores e num mundo melhor. Mesmo na aspereza do contexto político e social em que vivemos, faz parte do pacote. Ou então, a gente nem sai para trabalhar.

Um comentário:

Nata disse...

Dói ver um professor sofrer.
Ainda sim, "faz parte do trabalho acreditar em dias melhores e num mundo melhor."

Se ajuda de alguma forma, te garanto, teu trabalho fez muito efeito lá pelas terras da fabico... E foi muito importante.

Saudades.
bj.