"É preciso que me perdoe, caro e prezado senhor, por só lembrar agora, com gratidão, de sua carta de 24 de fevereiro: passei todo esse tempo indisposto, não exatamente adoecido, mas como que oprimido por um abatimento parecido com o da influenza, que me deixou prostrado, incapaz para tudo. Por fim, já que não melhorava, viajei para este mar do sul, cujo efeito benéfico já me ajudou uma vez. Mas ainda não estou saudável, escrever ainda é algo difícil, sendo assim o senhor deve considerar estas poucas linhas como se fossem muitas.
Deve ter certeza de que sempre me alegrará com cada carta, só tem de ser indulgente em relação à resposta, que talvez venha a deixá-lo muitas vezes de mãos vazias. Pois, no fundo, e justamente quanto aos assuntos mais profundos e mais importantes, estamos indizivelmente sozinhos, de modo que muita coisa precisa acontecer para que um de nós seja capaz de aconselhar ou mesmo ajudar o outro, muitos êxitos são necessários, toda uma constelação de acontecimentos tem de se alinhar para que isso dê certo alguma vez."
Rainer Maria Rilke
Cartas a um Jovem Poeta
Nenhum comentário:
Postar um comentário