quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Imagens de salas de aula

Deu no Jornal Hoje: professora de Viamão/RS faz aluno pintar parede da sala que ele mesmo tinha sujado (pichado, segundo o jornal). Até aí, não passava de mais uma matéria meio senso comum sobre sala de aula típica desse programa de TV.

O que chamou a minha atenção foi a fabricação e divulgação das imagens da sala de aula. Um dos colegas do rapaz filmou (provavelmente com o celular) a execução da tarefa e divulgou o video.
A família do aluno punido se sentiu ofendida com o ocorrido e disse que vai procurar o conselho tutelar. O programa de tv, por sua vez, realizou até uma enquete em seu site, pedindo a opinião das pessoas sobre a atitude da professora em ter punido o aluno dessa forma. Quase 98% dos participantes (segundo o programa) apoiaram a professora. O Jornal também colocou a matéria completa no site, comentando a reação dos pais.

Parece que cada vez mais convivemos com imagens de sala de aula e assistimos constantemente (como a grande parte dos espetáculos cotidianos) a cenas não tão bonitas como talvez nosso imaginário idealista sonhasse. Não se tratam de pessoas aprendendo e ensinando juntas em espaços tranquilos, onde diálogos e trocas fluem facilmente. Na maioria dos casos, são cenas violentas mesmo, cheias de conflitos e agressões.

Talvez muitos dos fatos que têm aparecido na mídia - e assim, fabricados e também modificados por ela - não sejam tão novos. Muito se fala sobre o bullying (termo usado para se descrever atos de violência física ou psicológica contra alguém em desvantagem), por exemplo, tão antigo e tão atualmente divulgado. Há quem diga, no entanto, que tal fenômeno agora ganha uma nova força tecnológica e midiática, já que muitas ações de humilhação de jovens têm sido filmadas e divulgadas na rede.

Mas essas imagens são novas para nós? Quem não lembra de momentos violentos ocorridos em sua escola quando era criança? Brigas e agressões verbais entre alunos ou mesmo entre alunos e professores não estiveram sempre presentes na escola?

Talvez o novo não seja a violência de se institucionalizar sujeitos, mas a espetacularização disso. Multiplicam-se as telas, multiplicam-se os olhares para a sala de aula. Novos panópticos, para o bem e o mal. E agora midiáticos.

Se antes, o controle estava tão claramente e institucionalmente na mão do professor, hoje mais do que nunca, a autoridade precisa ser construída. E diga-se que é praticamente impossível de fazer isso sem conflito. E agora, ele explode assim, aos olhos de todos, numa matéria de três minutos após almoço. Mais um video para se ver no youtube, mais um comentário para se fazer, às vezes, sem pensar: "é, a educação não tem jeito mesmo!"

Um comentário:

detinha disse...

Hoje em dia está muito difícil ser professor o fardo emocional que temos que carregar é muito grande. E parece que existe uma campanha velada para atingir este profissional que tenta exaustivamente transformar a sociedade, torná-la menos violenta, menos caótica, mais humana....
Apesar de tudo conspirar para desencorajar a realizar o seu trabalho com competência não é dessa forma que se constrói um bom caráter. É aparando as arestas na infância e na adolescência que possivelmente teremos adultos conscientes, os quais também saberão educar seus filhos.
Pois entendo que a educação vem de casa e que na escola os alunos aprenderão regras de convivência...