quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Criança e consumo

Hoje, vários blogs comentam a pesquisa que saiu sobre o perfil de crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual. O dado comentado (e com muita surpresa em vários posts) é o que mostra que 65% desses jovens usam o dinheiro para comprar objetos de consumo (ver, por exemplo, o post do Diário Gauche).

O que me choca é a surpresa por parte de alguns, como se não vivêssemos numa sociedade de consumo, estimulado desde cedo, intensamente. Recomendo o documentário "Criança, a alma do negócio", dirigido por Estela Renner (pode ser visto aqui) para todos que se interessam pelo tema (obrigatório para educadores!). É um ótimo ponto de partida para se pensar a questão, que é muito mais complexa e envolve muito mais níveis de análise do que se imagina.

O documentário questiona a publicidade dirigida às crianças e revela a produção de subjetividades que se dá a partir das práticas consumistas veiculadas na TV e nos artefatos culturais produzidos para esse público. Não concordo que se faça uma "demonização" explícita da publicidade, mas acho que é preciso pensar nisso, olhar para essa produção de desejos forçada e já tão naturalizada por nós. Só para começo de conversa...

Um comentário:

Ingrid Frank disse...

Lia,
confesso que fui uma das pessoas que ficou surpresa com esse dado, mas principalmente com o documentário da Estela Renner...

Que nós vivemos em uma sociedade consumista, eu sei; mas ser levado a perceber como isso está impregnado em cada detalhe das nossas vidas é beeeem diferente! Nossa, as crianças preferem comprar a brincar; no Natal, elas querem dinheiro e ipods (e não mais bichinhos de estimação); celular é condição de pertencimento entre os amigos; e tem uma ali que gostaria de morar no shopping!!

E o mais assustador é que o desejo nem é de brincar com esses brinquedos, com esses produtos (em um ou dois dias, os brinquedos são atirados no armário junto com tantos outros)... O desejo é o consumo, e consumir é um fim em si mesmo...

Mas como eu tenho afilhados (e vivo dando pra eles produtos de consumo q eu vi na tv), também penso no dilema de uma mãe e um pai que têm que lidar com esses desejos dos filhos... Se a gente não dá os brinquedos q os coleguinhas deles têm, se a gente não dá um celular bacana, se a gente não deixa a menina ir pra aula de batom e rímel, eles são excluídos pelos colegas na escola, e isso também têm efeitos bem nocivos pra uma criança, né?

Bem, como tu mesma escreveu, trata-se de “uma questão complexa e envolve muito mais níveis de análise do que se imagina”. Mas começar desconstruindo a naturalização, e chocar mesmo as pessoas com algo tão habitual é mesmo um bom primeiro passo...
Um beijão,
Ingrid